sexta-feira, maio 24, 2013


LIVRO NARRA HISTÓRIA DE SIQUEIRA DE AMORIM

Por Guaipuan Vieira (*)

Recentemente, no programa Canto Sertanejo, da Rádio Pitaguary, entrevistei o professor Francisco José Gomes Damasceno, da UECE, Doutor em História (PUC-SP) e Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em História e Culturas - DÍCTIS/UECE. Lançou, há pouco tempo, dois livros: História(s)E(m)Arte(s): Reflexões Sobre Sujeitos, coletânea de textos escritos por autores diversos e que aborda temas sociais e práticas culturais, resultado de um seminário realizado no Mestrado em História daquela universidade. O segundo livro: Nos Caminhos da Vida de Siqueira de Amorim, é a reprodução de croniquetas publicadas em jornais de Fortaleza, entre as décadas de 40 e 60, por Siqueira. Os livros foram publicados pela Editora EDUFCG (Universidade Federal de Campina Grande-PB) e estão disponíveis em bibliotecas públicas da capital alencarina, para aqueles que se interessam pela nossa cultura.

Neste artigo, faço uma reflexão sobre o conteúdo de NOS CAMINHOS DA VIDA... por se tratar de um personagem que vivenciei, e que não foi somente um poeta repentista ao som da viola, mas um formador de opinião, admirado por colegas do repente e intelectuais. Compunha a elite de cantadores de sua época, como Cego Aderaldo, Domingos Fonseca, Granjeiro, entre muitos, e que por ironia do destino, na efervescência da carreira, perdeu o direito de cantar, por complicações na laringe. Nos idos de 1992, em uma de nossas conversas, em sua residência, no município de MARACANAÚ-CE, transparecia desolado dos cantadores, mas alimentava seu existir na produção de cordel e na esperança de ver um livro inédito publicado, o que não aconteceu. Sabe-se que alguns anos depois do falecimento dele, os originais guardados em ambiente insalubre, na velha residência, foram destruídos.

Mas a história de Siqueira de Amorim é resgatada pelo professor Damasceno, que após concluir o doutorado, retornou as suas origens de nordestino, pesquisando a cultura popular, o cordel, o verso de improviso, do cantador, personagem às vezes simples pela circunstância da vida, ora rico pela expressividade artística. Nessas andanças pelo sertão cearense, teve a oportunidade de assistir a pelejas desses vates do improviso, e, em uma dessas, ouvir soar pela primeira vez o nome de Siqueira, cujos versos narrados ali, chamaram-lhe a atenção, para aquele personagem até então anônimo para ele: “o poema me remetia a voz espetacular, ao cantador criativo, ao homem cuja vida de cantorias – seu bem mais precioso –acabou por lhe entregar aos braços do povo...”

A curiosidade de saber mais desse poeta referenciado pelos cantadores, abriu caminho para a pesquisa acadêmica, quando descobre que “João Siqueira de Amorim é um personagem histórico em todos os sentidos do termo. Sua vida sempre possuiu as marcas do que uma vida experimentada de forma plena pode revelar”. A pesquisa foi fundamentada na documentação hemerográfica (jornais e revistas), feita na Biblioteca Pública Menezes Pimentel, quase dois anos garimpando as crônicas que ele escreveu nos jornais de Fortaleza. A outra pesquisa foi sobre a produção oral, oportunidade que entrevistou dona Raimundinha, viúva de Siqueira, quem lhe repassara uma rica história de vida, do poeta e do casal, entrelaçada de momentos difíceis, mas superada por não se subestimarem da solidão.

Damasceno observa que os escritos do poeta: “transitavam na cultura popular e na cultura letrada, de forma muito simples... ele escreve o cotidiano, faz registro político, da sociedade, da cultura, das coisas que aconteciam nos bares, na carestia, em tudo!” Outro aspecto marcante, é quando Siqueira narra que ainda menino, ouvindo os versos do repentista alagoano, Zé Félix, decidiu que daquele dia seria um cantador, como ele descreve: “Aqueles cantos, logo depois, abriram o caminho para minha voz... aqueles cantos abriram caminhos para a perdição de minha voz... para o final dos meus cantos ao som da viola... Siqueira foi um poeta de ricas inspirações, visionário que fez de seus versos, de suas crônicas, um veículo questionador do mundo ao seu redor. 

(*)Graduado em História


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