sexta-feira, dezembro 28, 2007

Petista vira personagem de cordel

RECIFE - Durão ou sensível, Lula caiu no gosto dos cordelistas. Em Recife, o folheto “Lula, um operário no poder", de Guaipuan Vieira, vende como água, com versos como “Hoje Lula é presidente/ Do Brasil do excluído/ Que espera por mudanças". Já em Fortaleza, Antônio Klévisson Viana emplacou três edições do livreto “A grande vitória de Lula. O Brasil sem medo de ser feliz". “Lula tem todas as características de personagem de cordel. Para nós, é um herói, o plebeu que virou rei", disse Viana. Rei ou plebeu, os fãs podem até carregar na lapela o plebeu que virou rei: nas feiras de artesanato do Nordeste virou febre o Lulinha, um bonequinho-broche em papel machê. Na opinião do publicitário Rodrigo Leão, diretor de criação da W/Brasil, uma das principais agências do país, Lula tem a embalagem certa com o conteúdo certo para os brasileiros. Lula é pop, segundo ele, porque é a cara do povo. Além de ter uma noção clara de marketing, ocupando espaços importantes, Leão lembra que o PT é o único partido que virou camiseta: “A origem de Lula e o que ele defende são sinais muito claros. E, em comunicação, clareza é fundamental. Nesse sentido, a figura do Lula é uma embalagem que combina com a mensagem. Lula é o que a embalagem oferece", avalia. Para o público, Lula é pop, segundo Leão, por causa do seu comportamento e das suas atitudes: “Na cultura pop brasileira dos últimos 40 anos, desde antes da ditadura militar, sempre houve um 'Eu sou contra o Governo'. O brasileiro era um e o Governo era outro. O Lula furou um pouco essa barreira do eles lá e nós cá". Para explicar a popularidade do presidente, o diretor de criação compara Lula ao ex-presidente Fernando Henrique. “A falta de polimento que ele tem representa os brasileiros melhor do que um presidente mais sofisticado, como Fernando Henrique. Fernando Henrique representa o Brasil com sofisticação. O Lula é uma representação mais natural, menos elaborada. Por isso, causa tanta emoção". Apesar do sucesso, o publicitário duvida que Lula, no poder, seja um bom garoto-propaganda, já que os políticos sempre causam alguma desconfiança nos cidadãos: “Preferiria que Lula fosse um ótimo garoto-propaganda após sair do Governo. Isso ia significar que ele foi um ótimo presidente".

E-Mail: politica@hojeemdia.com.br Fonte: Jornal HOJE -BH,19/01/2003

quarta-feira, dezembro 12, 2007

BALA E ARTE

Cultura da prepotência e da arrogância
Saindo do mundo real, mas inspirados nele, artistas e escritores bebem na fonte das histórias de violência para construírem suas obras

Jornal O POVO - 19/05/2007 15:43

"Você sabe com quem está falando?". Todos já devem ter ouvido - alguns, até, proferido - esta frase. Ela resume a prepotência e arrogância dos que se consideram acima das leis e donos da Justiça. Ela é tão presente no contexto da sociedade atual, que também foi transportada para a cultura popular. Os crimes políticos, os mandantes e os pistoleiros estão presentes em diversas obras literárias, músicas e cordéis. O antropólogo Roberto DaMatata diz que "o estudo do ´você sabe com quem está falando?´ mostra o conflito entre a hierarquia como valor e as normas modernas, impostas pelo Estado, que dizem que todos devem obedecer a lei". E é justamente neste limite que está o "poder" como essência, algo que os homens almejam e passam por cima de tudo para alcançá-lo. Com este enredo, muitas histórias foram contadas, com personagens diferentes e, muitas vezes, baseadas em fatos reais. "Todo o sertão nordestino
Assim como as capitais
Têm uma marca sangrenta
De assassinatos brutais
Que mesmo o tempo querendo
Não acabará jamais".
Com esta estrofe se inicia o cordel "Mainha, o maior pistoleiro do Nordeste", de Guaipuan Vieira. Os versos prometem contar a história de Idelfonso Maia Cunha, o "Mainha", um dos pistoleiros mais temidos no Estado durante as décadas de 80 e 90, e que hoje está preso.
"Estes crimes foram feitos
Pelo rei da pistolagem
Conhecido por Mainha
Homem de cruel bagagem
Pois descrevo sua história
No mundo da bandidagem", continua o cordel. O texto narra ainda as ligações entre Mainha e Francisco Diógenes, assassinado anos depois em Fortaleza em um acerto de contas, e os diversos crimes que ele é acusado de cometer, como dos ex-prefeitos de Iracema, Expedito Leite, e de Pereiro, João Terceiro Sousa.
"O terrível pistoleiro
Que já quase era lendário
Já deixou de ser o mito
Hoje é presidiário"(...) termina.

O cordel, lançado em 1998, teve grande circulação e chegou ás mãos do próprio Mainha. Ele teria mandado um bilhete para o autor dos versos, pedindo uma resposta. Guaipuan, então, transformou a defesa do pistoleiro em versos.

"Eu nunca fui pistoleiro
A todos posso provar
Se matei foi por vingança
Assunto particular
Pistoleiro que eu saiba
É pago para matar.

Se eu fosse perigoso
Não teria sido preso
Pois cabra desta maneira
Tem olhar bem aceso
Tem ouvidos de tiú
Ninguém o pega indefeso".

"O povo adora ler sobre pistolagem, sobre bandidagem. Esses são os cordéis que mais vendem", conta Guaipuan, que considera Mainha muito parecido com o cangaceiro Lampião. "Eles mexeram muito com o imaginário popular", diz. Os crimes políticos, a disputa de poder, também estão presentes em obras como de Guimarães Rosa e Jorge Amado. "Eles dão um tom lúdico à própria história do Nordeste. Os casos de coronéis, acerto de contas, bandidos como heróis. Tudo faz parte também da história real", afirma a socióloga Peregrina Capelo. (Vicente Gioielli)

sexta-feira, dezembro 07, 2007

CADERNO 3 –Diário do Nordeste
Cerimônia de posse (30/10/2007)
Nova gestão na Amlece

Iniciativa dos amantes da literatura, a Amlece troca de presidente nesta terça. Criada em junho de 2005, a Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará - conhecida como Amlece - muda agora de corpo gestor. Tendo como presidente, até então, José Lemos de Carvalho, a Academia recebe, para mais um período administrativo, o engenheiro agrônomo, poeta e escritor José Anízio de Araújo, que encabeçou a chapa única concorrente à presidência.O coquetel de lançamento toma lugar na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, FIEC, no auditório José Flávio Costa Lima, nesta terça-feira, a partir das 19h30. Da tradicional Casa de Juvenal Galeno, a Academia surgiu no mundo intelectual para atuar ilimitadamente - e sem fins lucrativos - no Estado. Também surgiu com o intuito de incentivar o interesse pelo idioma nacional, através do qual os associados procuram estimular o desenvolvimento literário e cultural nas suas mais diversas manifestações, populares ou eruditas.São associados da Amlece intelectuais das mais diferentes origens do conhecimento, tendo como ponto comum o amor à arte de dar sentido às palavras. São eles, além do seu ex-presidente e do recém eleito: Guaipuan Vieira, Caio Lossio Botelho, Francismar de Castro Araújo, José Muniz Brandão, José Olímpio de Souza Araújo, Wagner Vitoriano Bezerra, Maria Nirvana Medeiros, Francisco Eloy Bruno Alves, João Bosco Ferreira Lima, Mário Caula Bandeira, Manoel Murilo de Araújo, Mailde Maria Rocha, Francisco Castro de Souza, Pedro Jorge Medeiros, José Bonfim de Almeida Junior, Edson José Pinheiro, Maria Matilde Mariano, Gentil Teixeira Rolim, Aureni Braga, Luis Carlos Rolim de Castro, Núbia Maria de Barros Gomes e Vicente de Paula Falcão Moraes.

Serviço:Cerimônia de posse do novo presidente da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará, AMLECE. Nesta terça-feira, às 19h, no auditório José Flávio Costa Lima da FIEC, na Av. Barão de Studart, 1980 (Meireiles). Mais informações:(85) 3466-5400

quarta-feira, dezembro 05, 2007

AS FAÇANHAS DO PISTOLEIRO CATANÃ
Por Guaipuan Vieira (*)

Embora o cognome seja o mesmo, não estou falando do sargento PM João Augusto da Silva Filho, o “Joãozinho Catanã”, acusado de comandar um grupo de extermínio no Ceará. Mas de Joaquim Leandro Marciel, ou Francisco de Assis Brasil, o Catanã, pistoleiro de dupla identidade, que aterrorizou os Estados da Paraíba, Ceará e Piauí na década de 50 e que ainda suas façanhas são lembradas por populares nas capitais desses estados.
Catanã nasceu na Paraíba, em São João do Rio do Peixe, proximidades de Cajazeiras, região temida por Zé Cazuza, pistoleiro famoso, com centenas de mortes em todo o sertão da Paraíba. Foi preso pelo sargento Irineu Rangel, delegado de Souza, a mando do governador João Suassuna, que decidira acabar com o banditismo. Com histórico de muitos bandidos, Catanã estreou no mundo do crime aos dezessete anos, para vingar a morte do pai, pequeno agricultor da região, que por disputa de terra terminou assassinado. Aos vinte anos, por uma boa oferta de um fazendeiro, ingressou no crime de encomenda, deixando ao longo dos janeiros um rastro de sangue, descrevendo uma vida pregressa, acobertada por mandantes “coronéis”, fazendeiros e políticos daquela região. Fugindo do cerco policial, refugiou-se em Valença, no Piauí, onde conseguiu mudar de identidade e viver alguns anos como pequeno agricultor. Em 1947, passou a morar em Crateús, no Estado do Ceará, onde segundo o senhor Jafé Gonçalves de Oliveira, 81 anos, morador antigo daquele município, foi pago pelos Belos, família de poder aquisitivo em Novo Oriente/CE, para matar o comerciante Raimundo Ximenes, que estava estabelecido em São Luiz do Maranhão, acusado de mandante da morte de João Belo, sendo que o crime praticado fora pelo próprio cunhado de Belo. Em São Luis, Catanã passou-se por vendedor de jóias para se aproximar do desafeto. Ao certificar-se de que se tratava de uma pessoa trabalhadora, resolveu não praticar o crime, recebendo de Ximenes pagamento para deixá-lo em paz e com o pedido de não executar o mandante, fato que revoltou o pistoleiro porque tinha essa intenção.
As histórias que envolvem a vida criminosa de Catanã são vastas. A seqüência de crimes atribuídos, às vezes ceifando a vida do próprio mandante, quando percebia traição, o deixa em torno de um misto de Billy The Kid e Lampião.
Na capital cearense, na Praça do Ferreira, conhecida como o coração de Fortaleza, também são lembradas as façanhas do Maior pistoleiro daquela década, que na opinião do senhor Raimundo Ferreira da Silva, aposentado, 82 anos, “era hábil no gatilho, nem todo policial tinha coragem de enfrentá-lo, só foi preso porque foi pego desprevenido”, conclui. De Patos na Paraíba, o poeta popular Antônio Américo de Medeiros, forneceu-me estrofes do folheto de cordel Pistoleiros do Nordeste, edição de 1990, autor anônimo, onde o poeta faz uma retrospectiva do banditismo no Nordeste, transparecendo ao leitor que a prática da pistolagem é território sem domínio da força Pública: “O cangaço foi banido/ no Nordeste brasileiro/ mas o crime de aluguel / do perverso pistoleiro/ é território sem lei/ a polícia não dar frei/ reina o gatilho certeiro/. Na Paraíba reinaram/em uma década passada/Zé Cazuza e Catanã/ sem perderem a empreitada/ no sertão alagoano/ Chapéu de couro tirano/ fez a sua diabada. No Ceará foi Mainha/ um temível pistoleiro/ depois dele outros vieram/não acaba o justiceiro/” (...)
Na Praça Rio Branco, em Teresina/PI, logradouro que serve de encontro de aposentados, artistas populares e de vendedores ambulantes, tive a oportunidade de ouvir várias histórias ao seu respeito, uma delas comentou o senhor Abílio Pereira de Sousa, servidor público aposentado, 80 anos, que um das peculiaridades de Catanã era ao ver a foto da vítima e expressar euforicamente: “já estou com raiva”.
Na capital piauiense, o perito criminal Delfino Vital da C. Araújo(foto), que conheceu o temível pistoleiro, fez uma retrospectiva de sua história, informando que a prisão do mesmo ocorreu no início da década de 60, em Fortaleza, e fora recambiado para a capital piauiense pelo tenente Veras, acusado de matar um motorista de um jipe, para roubar o veículo, nas proximidades da cidade de Demerval Lobão, município metropolitano da capital do Estado. O serviço de inteligência da Secretaria de Segurança, suspeitando que o mesmo tinha outros envolvimentos, abriu uma linha de investigação, oportunidade em que foi descoberta a vida pregressa daquele a que era argüido a própria personificação do Mal, ou imbatível pistoleiro.
Uma entrevista sobre o bandido foi publicada, na época, em reportagem de Deoclécio Dantas, para o jornal Folha da Manhã, artigo que está contido em seu livro Dá Licença, Editora Halley, edição 2001. Nele, o jornalista esclarece que em tempos idos teve oportunidade de entrevistar, na penitenciária de Teresina, hoje abrigando o estádio Verdão, o temível pistoleiro, condenado a 30 anos de reclusão, mas incluído na soma de detentos de bom comportamento carcerário. Vivia cercado de livros com intuito de estudar o curso de direito e demonstrava arrependimento das vidas ceifadas, muitas delas pelo prazer de “ver a capemba do olho virar”. Segundo o jornalista, após a publicação da longa matéria, Catanã fora denunciado por um outro presidiário, de que aproveitava as saídas nos finais de semana para continuar a prática delituosa (matar gente), e que acabara de assassinar um policial na cidade de Macau, Rio Grande do Norte, fato comprovado na época pela investigação do capitão Astrogildo Sampaio, designado pela Secretaria de Segurança Pública. Catanã, que vinha sendo investigado pela Polícia piauiense, foi encontrado morto, numa casa no bairro Piçarra, vítima de envenenamento, como queima de arquivo ou desavença pela partilha do lucro, deixando incompletas páginas de um novo inquérito e observações pela crônica policial: o crime de pistolagem continuará um continente sem fronteiras, um território sem lei, envolto em uma seqüência de fatores ligados à questão sócio-econômica, freqüente em Estados como Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, onde o silêncio é garantia de vida para a população menos favorecida.

(*) Poeta, historiador, membro da Associação Cearense de Imprensa e da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará –AMLECE. Publicação: (Jornal O POVO -12/04/2008 00:25) e Meio Norte http://www.meionorte.com/josefortes/as-facanhas-do-pistoleiro-catana-67956.html