domingo, abril 01, 2012

A RADIADORA QUE FALAVA PARA O MUNDO INTEIRO
Por Guaipuan Vieira (*)

Nos anos 60, os serviços de alto-falantes, chamados rádios comunitárias estavam no auge na verde capital piauiense. A que mais se destacava era o da Macaúba. O estúdio ficava na residência do comerciante Vicente Pacheco, no cruzamento das ruas Gabriel Ferreira e 21 de abril. Vicente e sua mulher, dona Geralda, herdaram a rica dádiva de incentivadores da cultura popular, naquele rincão. Era um bairro cheio de diversões. Quermesses, quadrilhas, bumba meu boi, pau-de-sebo, malhação de Judas entre outros folguedos.

A “rádio” tinha uma admirável programação à noite, até às 22 horas. De longe, se ouvia as bonitas músicas sopradas pelo vento, enamorando as horas, bem como os avisos de achados e perdidos e as famosas declarações de amor, entre moças e rapazes, através da música anunciada. Que tempo! À tardinha, na mercearia do Vicente, havia, como sem falta, o encontro de amigos, “A TRIBUNA LIVRE”. O banco, feito de tronco de carnaúba, formava um ângulo de 90º. Acompanhava a casa por ser de esquina. Ganhou fama. Chamavam: O BANCO DOS SABEM TUDO.
Macaúba vivia em festividades. Como estava no mês das eleições para prefeito do município, anunciaram um grande comício com a presença do famoso LUIZ GONZAGA. Aquela comunidade estava ansiosa para conhecer o Rei do Baião, a voz do cancioneiro nordestino. Na véspera da grande festa, já estava armado o enorme palanque. O Coronel Narcizinho, da Rádio Guanabara no Rio de Janeiro, acompanhava Luiz na turnê. No dia da tão esperada festa, ele chegou cedo, aproveitou a oportunidade para visitar o poeta folclorista Hermes Vieira, residente no bairro, que havia escrito a letra “Coco daqui” com melodia de Narcizinho, gravado por ele, pela gravadora Aladim Discos, em 1969. Ao despedir-se do poeta, fora para casa de Vicente, responsável pelo evento. Quando vistoriava os equipamentos do som, isso às 17 horas e 30 minutos, Messias Rosa deu início às atividades radiofônicas da radiadora. Queria ser locutor profissional. O vozeirão fez eco: “Alô, amigos! Entra no ar a ZYH-34, serviço de alto-falante, a Voz do Bairro, falando para a Macaúba e para o mundo inteiro”. Narcizinho, coçou a cabeça e exclamou: “essa é demais! A rádio Guanabara que tem potência, às vezes me pergunto, será que chega nos demais estados da federação brasileira? Como é que isso chega? Vicente, que já tinha tomado uma... respondeu-lhe: “calma, Nascizinho. A festa é nossa. Mundo inteiro é uma vila que fica depois do trilho, a 300 metros!!!”


(*) Poeta e graduado em história